Google: Fora do funil
Enquanto o Google amplia seu filtro, outros buscadores optam por uma internet menos direcionada por dados pessoais.
Por Murilo Roncolato/Estadão
O Google mudou, unificou e simplificou sua política de privacidade na semana que passou e deixou entidades que zelam pelo respeito à proteção de dados pessoais e transparência na internet em alerta. Preocupada com as reações, a empresa faz agora uma “campanha educacional” para explicar as mudanças que devem afetar o modo como vemos a internet através dessa grande vitrine chamada Google.
A mudança faz que 60 dos seus produtos (comoYouTube, Picasa e Gmail) sigam apenas uma política de privacidade. Antes, cada serviço tinha uma política própria. Com isso a empresa ganha a capacidade de associar informações pessoais do usuário. Oficialmente, a diretora de privacidade do Google, Alma Whitten, se pronunciou dizendo que essa “associação” já era feita antes entre os serviços, a novidade é que agora eles mesmos se habilitaram a combinar históricos de buscas do YouTube a outras informações pessoais, cedidas pelo usuário ou não.
Historicamente, o Google tem modificado seu algoritmo de buscas que determina quais páginas exibir a partir dos termos buscados para tornar os resultados cada mais personalizados. Ele vincula informações obtidas pelo acompanhamento da navegação do usuário por meio de cookies (esteja ele logado ou não), como localização e conteúdo compartilhado por amigos ou pelo próprio usuário em redes sociais.
A nova política dá mais uma passo nessa aventura do Google que pode resultar, como se preocupam alguns estudiosos, na criação de “bolhas”, fechando os usuários em círculos de temas e pessoas que o isolam da grande web.
Para conquistar o público mais preocupado com privacidade, sites como Startpage e DuckDuckGo usam o tema como meta para ganhar popularidade. O Duck-DuckGo, por exemplo, saltou de 200 mil visitas diárias em fevereiro de 2011 para 500 mil em dezembro e 1 milhão na segunda semana do mês passado.
O criador do site, Gabriel Weinberg, é um ex-estudante do MIT. Apesar do crescimento, ele já disse não ter dinheiro para competir com Google e Microsoft que atualizam seus bancos de dados periodicamente. Por isso, optou por construir um buscador melhor se concentrando no que considera “valores de longo prazo”: respostas instantâneas, com menos spam, privacidade de verdade e uma melhor experiência de pesquisa global.
Na bolha. No blog do Google, Whitten escreveu: “Se estiver logado no Google, você espera que nossos produtos trabalhem lindamente juntos”. Será mesmo?
Eli Pariser, autor do livro The Filter Bubble – What the internet is hiding from you (Bolha-filtro – O que a internet está escondendo de você, ed. Penguin, sem edição brasileira), disse em um TED de 2011 que, ao contrário do que se pensava originalmente, a web não é um ambiente livre dos “curadores” da informação.
“O que vemos é uma troca de bastão dos curadores humanos para os algoritmos”, disse. “Se os algoritmos decidirão o que veremos, precisamos ter certeza de que eles não estarão atados apenas à relevância, mas também a coisas importantes, desconfortáveis, desafiadoras, de outros pontos de vista.”
A empresa californiana alega que as alterações em seus algoritmos sempre tiveram o objetivo de oferecer o conteúdo mais relevante e confiável para o usuário. Por isso a necessidade de guardar informações pessoais. Por outro lado, o rendimento do Google vem da publicidade por meio dos anúncios direcionados. E dados pessoais do usuário são necessários para isso.
Em entrevista ao Link, Ken Auletta, autor de Googled (Ed. Agir), diz que o “cabo de guerra” entre atender anunciantes e ajudar usuários pode fazer que ele perca a credibilidade conquistada nos 14 anos de existência.
“O Google se gabava de ser livre e neutro. Mas hoje ele também produz seu próprio conteúdo e luta para manter os usuários em seus sites em favor próprio, colocando-os no topo dos resultados ”, diz o escritor e jornalista americano. “Em paralelo, ele descobriu que os anunciantes desejam obter mais informações, por isso, como o Facebook e outros sites, procura extrair mais dados dos usuários. Isto pode ser compartilhado com os anunciantes que estão dispostos a pagar o preço por estas informações.”
Alternativas
- Bing: O buscador da Microsoft segue quase a mesma lógica de privacidade que o Google e tem um banco de páginas indexadas menor que o rival. Não busca vídeos e não relaciona imagens e outras categorias de busca na página de resultados. Br.bing.com
- Yahoo: É dos mais antigos. Em 2010 fez acordo com a Microsoft e passou a usar o motor do Bing. Logo, resultados (e termos de privacidade) são os mesmos. Leva vantagem por ter buscas de vídeos, o Yahoo Respostas e filtro para busca no Twitter ou na Wikipedia. Br.search.yahoo.com
- DuckDuckGo: Criado no fim de 2008, não guarda dados de navegação e faz uso de um misto de motores de busca (Yahoo, Wikipedia, Wolfram Alpha, além do DuckDuckBot). Tem recebido investimentos e usuários.Duckduckgo.com
- Startpage: Usa o sistema do Google, mas é configurado para garantir a privacidade: não registra IP, não usa cookies e permite acessar páginas por proxy (“copia” o conteúdo da página e mostra no próprio site).Startpage.com
- Blekko: Prioriza qualidade a quantidade. Tem um número menor de páginas indexadas e exclui páginas de spam ou que inflam artificialmente sua relevância. Grava dados de navegação, IP e informações de redes sociais caso o usuário esteja logado. Blekko.com
- Ask: Além de exibir resultados tradicionais, tem um sistema de perguntas e respostas feito pelos usuários. Guarda todos os dados do usuário (termos de busca, browser, IP), além de e-mail e dados acrescentadas por quem se registra. Ask.com